direitos autorais de prosa, poesia e imagens: Priscila Prado
(salvo expressa diversa referência )


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Profecias...

Tenho medo...você sabe: os artistas, ao terem acesso à eternidade, às vezes captam, por um viés, uma nesga, ainda que imprecisa, do futuro – e a transformam em ficção.
Provocam-nos risos e alívio, de tão inverossímeis.
Ou risos nervosos, assombrados, ante sua desconfortável verossimilhança.
Foi assim com Monteiro Lobato, que "anteviu",com margem de 200 anos, a mais recente disputa presidencial americana, entre uma mulher, um negro e um certo senhor... ('O Presidente Negro')
Ainda estamos pagando pra ver sobre as "previsões" de Ray Bradbury quanto à colonização do espaço sideral... ('Os Frutos Dourados do Sol', 'As Crônicas Marcianas')
Mas já se instalaram o limo nas áreas externas sombreadas, o bolor nos armários, o torpor nas almas: a julgar pelas chuvas que têm encharcado nossa região, temo que esteja a concretizar-se a "profecia" de Gabriel Garcia Marques – e que sejamos testemunhas, vítimas e agentes dos próximos '100 Anos de Solidão'...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

crônica a um amigo do passado

Encontrei um amigo do passado.
Ele estava num lugar totalmente inusitado,
um local em que eu jamais imaginaria encontrá-lo:
hoje.
Chamei–o por seu apelido,
mas ele custou a se reconhecer...
Quando virou-se, chamou-me por meu nome todo
e passou a se justificar por não ter me visto - ou reconhecido...
não precisava! - Reconheci-me nele, amigo do passado:
reconheci aquela que fora amiga dele
- por isto senti-me feliz de o (a) ter re-encontrado.
Perguntei, pelo nome, de sua namorada, mãe de seus filhos
- disse que estão todos bem. Citou com orgulho a profissão dela.
E a idade de seus filhos homens.
(Ganhei: os meus estão mais velhos - e belos.)
Despedimo-nos com votos de felicidades
e eu parti sorrindo, ainda -
ainda sem me lembrar do quanto me fizera sofrer
aquela adolescente que fui um dia...
No rádio do carro, Elis cantava:
senti-me jovem, feliz, transfigurada,
reconciliada comigo e meus algozes
- e, como Belchior perguntasse, "o que se faz?"
o açum-preto e Elis e eu unimos nossas vozes:
"o passado nunca mais!"

domingo, 21 de fevereiro de 2010

INVICTUS

Este poema inspirou Nelson Mandela
a suportar com dignidade e coragem
27 anos de prisão - de onde saiu para
ser o presidente da África do Sul,
pregando o perdão e a reconciliação.
Inspirou o filme de mesmo nome (INVICTUS),
em cartaz nos cinemas.
Que sirva de inspiração também para nós!


Invictus
Autor: William E Henley
Tradutor: André C S Masini
Copyright © André C S Masini, 2000Todos os direitos reservados. Tradução publicada originalmenteno livro "Pequena Coletânea de Poesias de Língua Inglesa"
Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu - eterno e espesso,
A qualquer deus - se algum acaso existe,
Por mi’alma insubjugável agradeço.

Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei - e ainda trago
Minha cabeça - embora em sangue - ereta.

Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.

Por ser estreita a senda - eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.

o original:

Invictus
by William E Henley
Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate;
I am the captain of my soul.

"Tive um pesadelo..."

"...que todos os meus sonhos se realizavam!" (Maitena, cartunista argentina)

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

E o seu?

Já sou conhecida por leitores deste século, o XXI! Graças a minhas amigas, poetisas e professoras: Marilza Conceição e Deisi Giacomazzi. Marilza apresentou meu livro a seus alunos, crianças entre 8 e 9 anos de idade, estudantes de escola pública; depois me mostrou o encantador resultado: ilustrações e paródias feitas pelos alunos, tendo por mote os 'pés-de-pato'. No ano seguinte foi a Deisi: convidou-me para ser entrevistada por seus alunos, da mesma faixa etária, de escola particular, a quem apresentara este mesmo poema. As crianças fizeram suas leituras peculiares, nem todas literais.
Este blog é meu mais novo 'pé-de-pato': por isto escolhi aquele poema como primeira postagem.
E o seu?

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

par de pés-de-pato















comprei pés-de-pato novos
agora o jeito é usá-los:
chova ou faça sol
no seco ou no molhado
lá vou eu com meus novos calçados

as pessoas me olham de soslaio
murmuram entre dentes
viram o rosto sem conter o riso
- estou na berlinda
com meu questionável siso

todos invejam meu desembaraço
(in 'a qualquer momento AGORA', ed.da autora, 2005)
(autoria da foto: desconhecida)