direitos autorais de prosa, poesia e imagens: Priscila Prado
(salvo expressa diversa referência )


quarta-feira, 24 de março de 2010

INÉRCIA

o lado largo da curva
onde a inércia atua
a tangente seduz
e você recua
o espaço tempo exato
em que a centrípeta
enfrenta a fuga
(in "a qualquer momento AGORA", 2005, ed.da autora, p. 48)

quarta-feira, 17 de março de 2010

DIA da MULHER

Duvidosa honra, o "dia da mulher"... A propósito, o que destaco é artigo publicado na FolhaSP do dia anterior: sobre o best seller de uma menina do Iêmen que, aos 10 anos de idade, conseguiu divorciar-se e voltar a estudar. Ela tem, hoje, 12 anos. O artigo conclui: "No mês passado, os EUA anunciaram US$ 150 milhões em assistência militar ao Iêmen para o combate aos extremistas. Em contraste, enviar uma menina à escola pública custa US$50 por ano, e menininhas como Nujood podem se provar mais efetivas que os mísseis como forma de derrotar os terroristas." (artigo de NICHOLAS D. KRISTOF, originalmente publicado no New York Times. tradução de Paulo Migliacci.)

sexta-feira, 5 de março de 2010

AVESSO

Quando
arranquei
todas as máscaras,
Restou-me a face
em carne viva

Quando arranquei
todos os trajes
Restou-me a carne
o pulso, o sangue
ossos expostos
arestas vivas

Quando arranquei toda a carne
Restou-me o passo,
o pensamento
avesso latejante:
a alma viva


(Priscila Prado, jan 2010)

quarta-feira, 3 de março de 2010

O ERRO CERTO

Affonso Romano de Sant'Anna
A Tabacaria e vários poemas de Fernando Pessoa têm versos demais
e muitos precisariam ser reescritos.
Trechos dos Cantares de Ezra Pound são prosaicos e a rigor incompreensíveis.
Manuel Bandeira e Neruda têm alguns poemas, que façam-me o favor!
Os Lusíadas, às vezes, cansam,
quase viram prosa rimada,
tal como ocorre com partes da Eneida, da Ilíada e da Odisséia.
Alguns quadros e desenhos de Picasso nem parecem feitos por um mestre.
Stravinsky às vezes aglutina sons demais em sua pauta.
Mahler, como Brahms, faz música, às vezes inteligente demais
E um dia, pasme! ouvi algo de Mozart que não me comoveu.
Até Bach tem composições de pura habilidade.

Não é possível acertar o alvo o tempo todo
como sabe qualquer atirador.

Por que não queres aceitar
a imperfeição do meu amor?

(in "Vestígios", Rocco:2005)

terça-feira, 2 de março de 2010

Cada um que abra a sua!

Também tenho minhas JANELAS:

O que tem limites estreitos
pede janelas

Janela é brecha, fresta, vão,
possibilidade

Janela por onde entrar ar, respirar
expressar-se

Um corpo precisa de janelas
para SER


in "a qualquer momento AGORA" (ed.da autora, 2005, p.64)

Janelas de EMERGÊNCIA

Sou fã dos Quintana: o poeta e o café-restaurante que o homenageia, em Curitiba (veja o site de ambos: http://www.ccmq.rs.gov.br/; http://www.quintanacafe.com.br/).
Gosto de quase tudo o que já li do Mario Quintana - e acho que já li quase tudo!
Já ouvi quem o acusasse de ser "popular" - algo que seria um demérito para um poeta (claro que quem o acusou não era, nem de longe, tão "popular"...) - mas, ao ler o poema abaixo, penso que é muito importante que se popularizem tais "janelas", para que possamos todos respirar!


EMERGÊNCIA (Mario Quintana)
Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela
abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.